Brasil é solo fértil para uso de inteligência artificial na saúde, diz médico de Stanford 102y1m
Em agem pelo Brasil, Robert Pearl falou a VEJA sobre os potenciais da tecnologia para melhorar os sistemas públicos e privados 5i3c1h

Os sistemas de saúde ao redor do mundo estão ando por crises – se parte dos governos pagam alto demais para garantir o funcionamento de serviços públicos, pacientes sofrem por falta de o onde esse tipo de esforço é inexistente. As soluções parecem raras – mas, no horizonte, apesar da ampla descrença, as inteligências artificiais aparecem como uma alternativa possível.
O estadunidense Robert Pearl é uma das pessoas que apostam no poder da tecnologia. Após discorrer sobre as ineficiências do sistema americano em dois best-sellers, em 2024 ele lançou o livro ChatGPT, MD, ainda não traduzido para o português, para falar sobre os potenciais das tecnologias generativas para impulsionar a saúde global.
Hoje professor da Escola de Medicina da Universidade Stanford, Pearl atuou por 18 anos como CEO do Grupo Permanente, uma organização sem fins lucrativos que se destaca entre os planos de saúde mais bem avaliados dos Estados Unidos. Em agem pelo Brasil para abrir a temporada do The Future of Medicine, ele concedeu entrevista a VEJA. Leia a seguir.
O senhor publicou “Mistreated” pela primeira vez em 2017. Já se aram oito anos e nós vivemos uma pandemia no meio tempo. Você acha que os sistemas de saúde melhoraram desde então">Não muito. Meus livros abordam problemas sistêmicos na saúde dos EUA, como fragmentação do atendimento, falta de comunicação entre médicos, informações desatualizadas e um sistema de pagamento do século XVIII. A tecnologia usada é antiquada (ainda se usa fax de 1834), e falta liderança para implementar mudanças. Médicos e enfermeiros trabalham muito duro, mas o sistema em si não melhorou. Acho que os Estados Unidos compartilham muito com o Brasil nesse aspecto, devido ao aumento progressivo de doenças crônicas como hipertensão e diabetes, que não conseguimos prevenir ou controlar bem. Acredito que a IA generativa é a ferramenta radical e necessária para a mudança, por isso escrevi ChatGPT, MD.
Você menciona que o Brasil é um solo fértil para melhorar a saúde da classe média. Você poderia comentar brevemente sobre isso? O Brasil é um solo fértil devido à sua população educada, economia que exige adaptabilidade, e uma crescente classe média que busca o e qualidade. A IA generativa oferece aos pacientes a capacidade de obter informações precisas, monitoramento de sinais vitais e responder a dúvidas 24/7. Em um país grande como o Brasil, a IA combinada com a telemedicina permite levar expertise a locais remotos. Essa tecnologia pode inicialmente beneficiar a classe média com o a smartphones e Wi-Fi, e depois se expandir para outras camadas sociais, democratizando o o e otimizando os recursos dos profissionais de saúde.
A IA pode ter algum benefício para a saúde mental dos médicos? Esse é um problema que o senhor destaca com frequência, não? A IA pode ajudar os médicos de duas maneiras: combatendo a sobrecarga e melhorando a precisão diagnóstica. Médicos estão exaustos devido à crescente demanda por atendimento a doenças crônicas, que exigem inúmeras consultas ao longo da vida do paciente. A insatisfação profissional e o risco de erros por pressa levam a complicações evitáveis. Com a IA, os médicos se tornam melhores clínicos, reduzindo os óbitos anuais por diagnósticos errados.
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Seu livro é bem recente, mas a inteligência artificial está evoluindo rapidamente. Como avalia a forma como estamos aplicando a inteligência artificial atualmente? As previsões do meu livro sobre a IA estão se concretizando, e o progresso foi ainda mais rápido do que o esperado. A IA evoluiu de informações desatualizadas e erros para raciocínio profundo e multimodalidade. Embora o ponto de AGI (Inteligência Artificial Geral) ainda não tenha sido alcançado, a IA generativa já é um recurso superior aos tradicionais, oferecendo informações personalizadas e precisas. Recomendo usá-la em conjunto com o médico, mas alerto que o uso independente está se aproximando, exigindo preparação de governos, reguladores, educadores e clínicos.
Como você acha que os médicos e o próprio sistema deveriam se preparar para a AGI? Médicos sempre serão úteis, mas precisarão evoluir. A primeira etapa é reconhecer as lacunas existentes na qualidade e no o aos cuidados. Por exemplo, o controle da hipertensão na Kaiser Permanente era de 90%, enquanto nos EUA é de 60%, e no Brasil, provavelmente menos. Devemos, então, trabalhar juntos e usar a IA generativa para fechar essas lacunas.
Como se preparar de forma que a AGI não seja mais uma fonte de desigualdade no o? Ao longo do caminho, precisamos mudar a forma de remuneração dos médicos, ando de um sistema baseado em volume para um que recompense melhores resultados. O manejo adequado de doenças crônicas poderia reduzir ataques cardíacos, derrames, insuficiência renal e câncer em 30-50%, liberando recursos e salvando vidas.
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Como o senhor avalia o cenário atual da longevidade? O cenário atual mostra que a longevidade está aquém do ideal. Dados de um artigo do New England Journal of Medicine indicam que o manejo adequado de doenças crônicas (como diabetes, pressão arterial, cessação do tabagismo, alimentação e exercícios) pode aumentar a expectativa de vida em sete anos, sendo seis deles saudáveis.
Como a inteligência artificial poderia ajudar a melhorar a longevidade saudável e ir além do tratamento de doenças? A IA generativa pode proporcionar atendimento de alta qualidade a um custo muito menor. Monitores vestíveis, conectados a ferramentas de IA generativa, podem acompanhar sinais vitais (pressão, pulso, oxigênio), permitindo intervenções precoces e elevando a qualidade do atendimento. Acredito que isso poderia resultar em um atendimento 50% melhor a um custo 30% menor, eliminando ataques cardíacos, derrames, cânceres e insuficiências renais. Minha esperança é que, com a IA generativa, possamos alcançar uma saúde melhor para milhões de americanos e brasileiros.
A Kaiser Permanente é uma organização sem fins lucrativos, mas tem operado consistentemente entre os melhores provedores de saúde. Que lições você tira para que outros sistemas de saúde, privados ou públicos, possam melhorar a saúde? Como CEO do Permanente Medical Group na Kaiser Permanente, fui responsável por 12.000 médicos e o cuidado de 10-12 milhões de pessoas. A chave do sucesso foi a integração e colaboração entre o plano de saúde, hospitais e médicos. Os médicos recebiam um bom salário, incentivando a qualidade e o o, não o volume de procedimentos. Nosso sistema, antes mediano, tornou-se líder em qualidade, com tempos de espera reduzidos e alta satisfação médica. No entanto, o modelo não era escalável. Se eu fosse CEO hoje, apostaria na IA generativa para replicar essa qualidade de atendimento a um custo muito menor, capacitando pacientes e médicos para alcançar resultados melhores.